domingo, 14 de agosto de 2011

Entrevista Jornal Caeté nº 64 31/Julho/2011

Jornal Caeté
Conversa Afiada
Entrevistador : Kleber Santos
Entrevistado : Vascão do pastel

1) Como surgiu Vasco em Caeté? De onde veio e por que Caeté?

            Eu vim de Belo horizonte onde morei durante oito anos. Estava cansado profissionalmente pelo fato de que os empresários me contratavam para montar ou reestruturar negócios na área de alimentação e depois que tudo começava a funcionar direitinho me dispensavam e davam o cargo de gerente para algum parente ou amigo.  Isso me revoltava e me deixava triste de ver todo meu trabalho e dedicação sendo usado por outros para sustentar seus orgulhos. Caeté surgiu no meu caminho quando visitei um lote que minha irmã havia comprado na Quintas da Serra. Gostei da tranqüilidade das ruas e da amabilidade do Caeteense.  De BH via telefone coloquei um anúncio num jornal daqui me oferecendo profissionalmente. Acabei sendo contratado e vim para cá.

2) O senhor sempre teve uma postura crítica diante de coisas e pessoas, ou podemos dizer que existe um cara rebelde dentro de você?

Sempre contestei coisas que não tinham uma explicação lógica e sincera. Quando cheguei ao Brasil fiquei num colégio interno de freiras. Fui muito castigado por contestar as ordens das religiosas. Reclamava de ter que assistir missa: “... Se na bíblia está escrito que onde houver um ou mais reunidos em nome Deus, Ele estará presente, então não preciso ir à missa para rezar, rezo aqui mesmo onde estou!” Me mandavam confessar com o padre e eu reclamava: “Se sou filho do Cara lá de cima porque preciso de alguém de carne e osso como eu para me interceder junto a Ele? Falo diretamente com meu Pai”. Tudo era motivo para ser colocado de castigo.
Sempre falei o que pensava. Não creio que isso seja rebeldia. Acho inclusive que muitos problemas da sociedade em que vivemos seriam resolvidos se as pessoas falassem sempre o que pensam, sem falsidades e sem hipocrisia.

3) O senhor é um crítico ferrenho do governo municipal. Tal postura não tem a ver com a aplicação de sansão para fechamento de seu trailer de pastel?

É exatamente o contrário, o fechamento de meu trailer é que tem a ver com minha postura de critico ferrenho dos erros cometidos pelo governo municipal.  Antes do fechamento do trailer eu já vinha contestando o governo Ademir pelo fato de que ele repetia a mesma postura de outros políticos. Depois de tomar posse passou a ignorar seus eleitores, separando as pessoas por castas sociais e se mostrando autoritário demais.  Não vi em seus primeiros três anos de mandato realizações que ele havia prometido durante a campanha (a qual fiz parte a seu favor). Não queria isso para mais quatro anos. O fechamento arbitrário do meu trailer por causa dessas minhas criticas, principalmente durante a campanha, só veio confirmar esse lado vingativo e “coronelista” do atual prefeito, o que me fez intensificar a vigilância e denúncia de irregularidades na prefeitura.

4) Naquela época, coincidentemente era período eleitoral e no entender de grande parte das pessoas foi uma retaliação pessoal, mas a prefeitura disse que o senhor estava irregular e, inclusive já havia sido notificado..

Em 2004, estando ao lado de Raul Modas, trabalhei na campanha de Ademir por decisão do PTB que em votação interna decidiu por maioria apoiá-lo. Ademir venceu a eleição com nossa ajuda. Durante sua gestão de 2005 a 2008 o trailer já estava lá naquele mesmo lugar. Constantemente a fiscalização sanitária me visitava e nunca foi constatada nenhuma grande irregularidade no meu comércio. Durante esse período sequer foi cogitada a hipótese de fechamento do trailer.  Nas eleições de 2008 abracei a campanha de Fernando de Castro confiante na presença de Raul Modas como vice. A campanha foi dura e movida por muitas ações ilegais e covardes como o caso dos panfletos anônimos. Durante a campanha postaram numa rede social na internet que iriam retirar o meu trailer da praça após a reeleição de Ademir e que eu deveria jogá-lo dentro do córrego na Quitandinha. Pelo menos essa promessa eles cumpriram. A seqüência de datas, reeleição no domingo, minha carta nos jornais na quinta-feira e o fechamento do trailer na terça-feira imediata é muito clara de que houve vingança política.                                      

5) Com esta sansão, seu prejuízo foi grande? O senhor move alguma ação contra o município?

Financeiramente Ademir me destruiu e tem tornado muito difícil o sustento de meu lar. Muitas vezes entro em depressão, choro e me revolto. Se não fosse a esposa e filhos maravilhosos que tenho e o apoio de clientes e amigos acho que já teria feito alguma besteira. A reação favorável e de admiração da população a cada carta minha enviada para os jornais tem sido muito importante. Moralmente e popularmente saí fortalecido e minha coragem aumentou ainda mais. Se dependesse da minha vontade e fosse possível ser candidato a vereador agora, certamente o faria, não pelos mesmos impulsos que levaram a atual administração ao fechamento do meu trailer, mas para expor em atitudes o que prego em minhas cartas.
Existe uma ação desde o ano da reeleição de Ademir onde contesto o fechamento do trailer. Esse é um processo que vem se arrastando, pois o principal objetivo de Ademir é terminar seu mandato sem passar pela “vergonha” de me ver reabrir o trailer.

6) O eleitor caeteense agiu mal em reeleger Ademir, Vasco?

O grande problema das últimas eleições foi o fato de que o eleitor nas cidades pequenas não têm direito a segundo turno, o que na minha opinião é inconstitucional, pois a lei tem que ser igual para todos. Os votos de quem não queria Ademir reeleito se dividiram entre os três candidatos da oposição o que não iria acontecer num segundo turno entre ele e Zezé Oliveira. Ademir foi eleito pela minoria. A grande verdade matemática é que a maioria da população não o queria lá. A diferença entre Ademir e Zezé Oliveira foi muito pequena e temos que levar em conta o número de funcionários nomeados colocados na prefeitura por Ademir.  Muitos desses “nomeados” logicamente votaram para manutenção de seus “empregos”.

7) O senhor considera de todo ruim o governo Ademir Carvalho? Não existe nada que se aproveite ou entre "mortos e feridos" salvaram-se alguns?

Eu seria mentiroso se afirmasse que não existem pontos positivos no governo Ademir. Em todos os lugares existem pontos positivos e pontos negativos, pessoas boas e pessoas más, atitudes honestas e atitudes desonestas. Agora o que tem que prevalecer é a maioria e infelizmente para a população de Caeté o governo Ademir é em sua grande maioria ruim.
Não tem como comemorar que uma vida se salvou numa tragédia que possa ter vitimado milhares de pessoas. O sentimento de perda é imensamente esmagador.

8) Bom, o senhor foi um grande defensor do desenvolvimento sustentável de Caeté, defendendo até mesmo as atividades minerarias no município, em contraponto com sua irmã Teresa, que é radicalmente contra as atividades minerarias, principalmente no entorno da Serra da Piedade e atualmente no Gandarela. De uns tempos para cá seu discurso vem mudando e há implícito, outro discurso em defesa do meio ambiente sem interferência das mineradoras, por exemplo. O que mudou?

Mudaram principalmente as situações. Cada caso tem que ser analisado individualmente. Um dos grandes males das decisões humanas é quando se generalizam as coisas. No caso da Serra da Piedade a principal causa que me motivou a enfrentar o movimento SOS serra da Piedade foi o descaso de seus militantes para com a situação dos funcionários da mineradora. Além disso, a questão ambiental era contestável em função da existência de rebanhos de ovinos e caprinos soltos, bem como a existência de condomínios residenciais em seu entorno e a própria existência do santuário religioso. Na Serra do Gandarela a situação é totalmente diferente. Não existem funcionários que venham a ficar desempregados, a vegetação e fauna local estão intocadas e além de tudo é uma fonte inesgotável do bem maior do planeta: a água potável.
Tudo em nossa existência deve ser colocado na balança de nossa consciência para podermos tomar nossas decisões. Na questão Mina Apolo minha balança pessoal pende para o lado da preservação apesar de continuar achando hipocrisia o ser humano se colocar radicalmente contra a atividade mineraria e continuar usufruindo dos bens advindos dessa atividade. Acho muito mais importante que se incentive e acelere as pesquisas em busca de novas alternativas para então paralisar definitivamente as atividades minerarias. A única coisa certa é que o planeta não suporta mais que se tire tanto material de suas entranhas. A terra está morrendo e nós continuamos rasgando seu corpo e retirando seus tecidos e órgãos internos. 

9) O senhor faz um tipo, "repórter de plantão", denunciando através de fatos, fotos e considerações pessoais todo tipo de conduta que considera desfavorável ou mesmo equivocada da administração municipal. Só o governo falha, Vasco, não seríamos nós, os cidadãos, maiores responsáveis pelos desmandos do governo?

Não há sobre a face da Terra a menor sombra de perfeição, somos todos imperfeitos buscando aprender com os erros próprios e alheios. Nós, cidadãos, somos responsáveis se votarmos num candidato e após o mesmo ser eleito não cobrarmos e exigirmos dele, principalmente, honestidade. O que acontece e pode vir a destruir nosso bem político maior, a democracia, é o fato de nossa população ser pacífica e conformada demais. Dói-me muito quando escuto alguém dizer que “isso é assim mesmo”, “deixa pra lá, todos eles roubam mesmo”, “vou votar nele, pois me deu uma telha de amianto”... Bate uma saudade e uma inveja de movimentos como as “diretas Já” , “Fora Collor”...

10) Recentemente o senhor se revoltou com uma reunião na Câmara onde se discutiu a saúde do município, criticou duramente a postura de alguns vereadores e a condução da reunião e disse que o vereador Dalton foi procurá-lo e até levantou a hipótese de processá-lo. O que houve Vasco? Como se comportaram os vereadores presentes a esta reunião?

Eu senti uma enorme vergonha, pois eles (vereadores) não têm vergonha nenhuma. Uma reunião convocada para tratar da vida humana, do sofrimento ou morte de pessoas contar com a presença de apenas quatro vereadores. Vereadores esses que se mostraram bajuladores elogiando aqueles que são responsáveis pelo sistema de saúde do município ao invés de cobrar ações e soluções. Uma reunião onde a população, maior vítima desse descaso, acabou ficando amordaçada sem poder se manifestar ou ter suas perguntas respondidas. Fiquei ainda mais revoltado com a atitude de Dalton encerrando a reunião de forma agressiva e autoritária. Senti-me na época da ditadura.

11) De 0 a 5, e um breve comentário,  dê uma nota para: Administração Municipal, Câmara Municipal de Caeté, Saúde Pública, Serviços de Saúde da Santa Casa, Esporte e Lazer em Caeté, Cultura e Turismo em Caeté, Investimentos no Município, Infra-estrutura do Município, Movimentos Ambientalistas, Atuação dos Deputados Majoritários de Caeté.

            Quero deixar claro que minha avaliação se refere aos administradores de cada área e não ao grupo de funcionários onde sei existirem profissionais honestos, competentes e interessados.

Administração Municipal e Câmara Municipal de Caeté > Não tem como dar nota para quem merece ser expulso por mau comportamento. Nos casos das atuais administração Municipal e Câmara de vereadores tem que necessariamente expulsar seus membros e dar oportunidade a quem realmente mereça.

Saúde pública e Serviços de saúde da Santa Casa > Vou dar a nota 1 apenas em função de parte dos funcionários, em relação aos demais nota 0, pois falta interesse, competência, criatividade e principalmente respeito na questão da saúde do povo de Caeté.

Esporte e Lazer em Caeté > Nota 0 pois não posso dar nota menor. É uma secretaria que serve apenas para ser cabide de empregos. Todos os meses quando recebem seus vultuosos salários o secretário municipal e demais nomeados deveriam ter na sua consciência de que estão furtando dinheiro público. Receber para não fazer nada é furto. Esporte e lazer em Caeté virou sinônimo de Nada na atual administração pública.

Cultura e Turismo em Caeté>Nota 4. Apesar dos resultados e ações não serem os ideais o melhor secretário de governo. Parece-me estar de mãos atadas, sem apoio da própria administração púbica. Se ainda houvesse tempo iria sugerir que buscasse importar pensamentos e idéias de cidades como Parati no estado do Rio de Janeiro onde realmente se respira cultura. Turisticamente Caeté não existe.

Investimentos no Município> Nota 0. Atrair investimentos para a cidade depende da infra-estrutura disponível no município. Quem apostou suas fichas na cidade fez um investimento de alto risco, pois não viu sucesso da atual administração em melhorar estruturalmente a cidade. Novos investidores irão aguardar as eleições de 2012 para prever um quadro econômico melhor dependendo da renovação política no executivo e no legislativo.        

Infra-estrutura do Município > Nota 0. Caeté não tem infra-estrutura nenhuma. Nem industrialmente, nem turisticamente. Não está preparada sequer para receber as atividades minerarias. O possível aumento da população só vai intensificar essa falta de estrutura municipal.

Movimentos ambientalistas> Nota 4. Apesar de divergências principalmente em relação ao radicalismo das ações eu aprovo os movimentos ambientalistas apolíticos da cidade. Creio fielmente e admiro as boas intenções da maioria de seus membros e acho que a população tem muito a ganhar se puder tomar conhecimento e tomar posição nas questões levantadas por eles.

Atuação dos Deputados Majoritários de Caeté > Nota 5. Aprovo a atuação de João Vitor Xavier e de Vitor Penido. Sei que ainda é cedo para avaliar o Deputado João Vitor Xavier, mas suas ações nesse início de mandato têm sido boas. Sei das importantes conquistas de Vitor Penido para Caeté no mandato passado e no atual. Sei do carinho que ambos nutrem com nossa cidade e que muitas das críticas que recebem se devem a questões de interesse pessoal e não coletivo de cada eleitor. Precisamos estar cientes que o trabalho deles além de não poder ser exclusivamente para nossa cidade, depende de toda uma burocracia e em muitos dos casos ainda é freado pela prefeitura municipal apenas por questões partidárias, de orgulho e inveja política. É criminoso e absurdo que a cidade perca verbas e benefícios advindos do trabalho desses deputados apenas porque o prefeito não quer. A avaliação de qualquer político deve ser constante. A nota 0 de hoje pode ser nota 5 amanhã e vice-versa. 



Vasco Manuel Viana de Freitas Corujo
50 anos

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